CRISE DE REFUGIADOS ROHINGYA


O Mianmar possui uma das maiores diversidades étnicas, contabilizando 135 etnias apenas em seu território, que contém aproximadamente 52 milhões de habitantes. Desde 1948, quando conquistou sua independência dos britânicos, foi palco para uma série de conflitos entre o governo central e grupos minoritários, que buscavam formar Estados separados ou autônomos (POLITIZE, 2018)

Assim como em outros países, a religião compõe uma peça central da sociedade do Mianmar, podendo muitas vezes influenciar processos políticos. A religião principal do país é o Budismo, representado por 87,9% da população. Em seguida, aparecem os cristãos, que somam 6,2%. Os muçulmanos, animistas e hindus compõem 4,3%, 0,8% e 0,5% respectivamente. A população budista ‘bramá’ ou ‘birmane’ é o maior grupo étnico no país e domina o campo político-econômico, possuindo uma série de benefícios (POLITIZE, 2018).

Os Rohingya são uma minoria muçulmana apátrida de Mianmar. Eles não são oficialmente reconhecidos pelo governo como cidadãos, e há décadas a maioria budista birmanesa é acusada de submetê-los a discriminação e violência (DW, 2017). A partir dos anos 70, os efeitos do governo militar intensificou ainda mais a perseguição às minorias não reconhecidas, afetando radicalmente a comunidade Rohingya. Na época, o governo central (dominado por budistas bramá), negligenciou a demarcação de novas fronteiras, e restringiu a expressão étnica, política e social dos povos minoritários. 

Desde então, os Rohingyas sofrem com a gradual supressão de direitos, como o acesso à cidadania (eles são apátridas), a proibição ao casamento, às viagens sem a permissão das autoridades, ao direito de possuir terra ou propriedade e de ensinar e suas próprias línguas étnicas. Essa violação de direitos e o completo abandono por parte do Estado, resultou em desobediência civil e violência organizada (POLITIZE, 2018). O governo de Mianmar também rechaça o uso do termo "rohingya" em qualquer resolução das Nações Unidas, alegando que ele aumenta as dificuldades em abordar a questão (DW, 2017). 

A Organização das Nações Unidas (ONU) considera os Rohingya uma das minorias mais perseguidas do mundo- milhares de rohingya fogem de Mianmar e Bangladesh todos os anos, na tentativa de chegar à Malásia e à Indonésia, ambas de maioria muçulmana. Em 2012, choques entre os rohingya e nacionalistas budistas causaram diversas mortes, forçando milhares da minoria muçulmana a fugir para Bangladesh, Malásia, Tailândia e Indonésia (DW, 2017). A última fuga massiva dessa população começou em 25 de agosto de 2017, devido a violencia. A grande maioria dos refugiados Rohingya são mulheres e crianças, incluindo bebês recém-nascidos. Muitos outros são pessoas idosas que necessitam de ajuda e proteção adicionais. Ao total, são mais de 713.000 refugiados forçados a fugir para Bangladesh desde 25 de agosto de 2017 (ACNUR, 2018).

Segundo Siegfried O. Wolf, diretor de pesquisa no South Asia Democratic Forum (SADF): 

"Relações interreligiosas são muito complexas em Myanmar. Muçulmanos, especialmente os rohingya, são confrontados com a islamofobia profundamente arraigada de uma sociedade e Estado predominantemente budistas. Os fundamentalistas alegam que a cultura budista nacional estaria ameaçada pelos muçulmanos, ainda mais devido ao fato de Myanmar estar cercado por vários países islâmicos, como Bangladesh, Malásia e Indonésia."

Segundo a ONU (2020), a crise de coronavírus tem potencial para ser devastador a comunidade refugiada de Rohingyas ao redor do mundo- principalmente no maior e mais lotado campo de refugiados do mundo, o Cox's Bazar, em Bangladesh. Com milhares de pessoas vivendo em um campo de refugiados com capacidade limitada, distanciamento social é quase impossível. A violação de direitos humanos dos Rohingya já era alarmante, e agora é mais do que necessário que a comunidade internacional mantenha-se atenta para que os refugiados não sejam deixados de lado durante a crise de COVID-19. 


REFERÊNCIAS

ACNUR. Rohingya. 2018. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/rohingya. Acesso em: 22 set. 2020. 

DW. Entenda o conflito em torno dos rohingya em Myanmar. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/entenda-o-conflito-em-torno-dos-rohingya-em-myanmar/a-40517106. Acesso em: 22 set. 2020. 

ONU. Three years after exodus, Rohingya refugees ‘more vulnerable than ever’. 2020. Disponível em: https://news.un.org/en/story/2020/08/1070962.  Acesso em: 22 set. 2020. 

POLITIZE. A CRISE HUMANITÁRIA NO MIANMAR: VIOLÊNCIA CONTRA OS ROHINGYAS. 2018. Disponível em:  https://www.politize.com.br/mianmar-crise-humanitaria-contra-rohingyas/. Acesso em: 22 set. 2020. 

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